Resumo da leitura
A catastrofização é um dos jeitos tortos de analisar cenários, dos mais comuns até.
Misturando os ditados “tempestade num copo d’água” e “copo meio cheio ou meio vazio”, catastrofizar pode ser comparável a fazer “tempestade em copo meio vazio.”
Consiste em ignorar a maior parte de itens de uma questão e já projetar o Apocalipse. Armagedon total, um desespero só. Para piorar a situação, um sentimento de impotência, bem vitimista, por se sentir incapaz de enfrentar, de agir.
Então, descatastrofizar é preciso.
Como fazer? Sentiu desespero de um mundo acabando, algumas perguntinhas básicas:
O que de pior pode me acontecer?
Quais chances reais desse pior acontecer?
Se acontecer, que forças eu tenho, como eu posso enfrentar?
E assim outros questionamentos, caso queira, como abaixo.
Quem melhor descatastrofizador se tornar, menos catastrófica a vida terá!
Muitos que vivem ansiosos não se dão conta de que podem ter mais bem-estar se identificarem melhor o modo como interpretam cada situação do seu dia-a-dia.
Esse texto é um convite a refletir sobre o modo de ver. Com todo respeito aos fatos, vamos conversar sobre o modo de enxergá-los.
Catastrofizar é desprezar a análise global de uma situação e fixar o pensamento apenas na expectativa de que irá acontecer o pior desfecho possível, vendo-se sem capacidade de reagir!
É algo como: “vai acontecer uma verdadeira catástrofe e eu não conseguirei impedi-la, menos ainda suportá-la!” Por interpretar uma ameaça como fatal, começo a desconfiar das minhas habilidades e meu corpo mobiliza toda energia para cuidar dessa “emergência”, assim interpretada.
Fantasiosamente, é como se eu me visse (me “visse” e não “fosse” ou”estivesse”), pequenino e sem armas, abaixo de um enorme e furioso dragão.
Como efeito imediato, eu vislumbrar o pior cenário e me sentir incapaz de lidar com ele gera mais um problema ainda, além do principal. Ou seja, quando eu catastrofizo, gero um bloqueio que me faz gastar mais tempo e energia, além de dificultar a busca de solução para a situação que deveria de fato estar sendo tratada. Catastrofizar, então, é uma péssima estratégia, pois me impõe um passo a mais, desnecessário e prejudicial, antes de começar a agir.
Considerando que a catastrofização é um padrão de pensamento (é distorcido, mas é cognitivo), é fácil de entender que ela tende a se repetir. Há o risco de que se torne quase um estilo de vida: recebo uma notícia, penso automatica e depois obsessivamente no pior cenário e acredito piamente nele como única opção, desprezando boas alternativas e desmerecendo as minhas habilidades. Catastrofizo, pois, e, por conseguinte, fico ansioso, dificulto minha vida, gasto mais energia do que o necessário, mantenho elevados meus níveis de estresse, o que resultará para mim em mais doenças do corpo e da mente, dificuldades de relacionamento, etc. Péssimo negócio, não é mesmo? Sim, é preciso intervir consciente nesse movimento.
Parodiando o trava-línguas dos “mafagafos” no título desse artigo, a ideia é fazer algumas reflexões para acostumar a mente a fazer leituras mais realistas e menos catastróficas dos acontecimentos ou da previsão deles. E, é claro, lembrar que eu tenho forças (e quais) para enfrentar as dificuldades que a vida pode me trazer. Em outras palavras, para melhorar meu bem-estar, uma das estratégias possíveis pode ser “descatastrofizar”, reduzir a ameaça do pior cenário acerca de um determinado assunto/situação.
Vamos lá?!:
Quais são exatamente meus pensamentos e minhas emoções a respeito dessa situação? O que eu penso sobre esse fato? O que eu sinto sobre o que eu pensei?
Qual é o pior cenário possível neste caso? O que de pior pode me acontecer? Verbalizar ou escrever a catástrofe, indicando em escala de zero a dez qual é o tamanho dessa expectativa, desse “dragão”.
Por que esse fato temido é tão aterrorizante assim?
Quais são as provas de que esse meu modo de acreditar e de pensar está coerente com a realidade? E quais evidências deixam claro que essa ideia ruim não é a única possível? (Enfrente essa pergunta com sinceridade, sem vitimismo). Qual é outra possibilidade de algum desfecho mais favorável ou menos trágico acontecer?
O que eu diria a um grande amigo que estivesse passando pela mesma situação? Eu reforçaria o cenário apocalíptico que ele me traz?
Quais vantagens de eu continuar pensando de um jeito tão pesado? E quais desvantagens?
Será que a minha interpretação não pode ser um pouco diferente? Será que não pode ser menos exagerada, talvez?
O assunto em questão está na minha zona de controle ou estou tentando controlar o incontrolável? Qual aspecto desse caso é realmente controlável por mim e que ação eu vou de fato executar a respeito? Se não for possível agir, por que estou gastando tanta energia nisso?
E se o pior acontecer mesmo: eu irei sobreviver a isso? Ou será que a tal “catástrofe vai acontecer e meu mundo automaticamente acabará, sem chance alguma de defesa”? Hã?! Menos, não é?!
Ou, refletindo de outra forma: se o viés mais catastrófico de fato acontecer, o que poderei fazer? Quais habilidades estou esquecendo que tenho e que, sim, poderei usar para lidar com essa situação hipotetizada? Se acontecer mesmo, a quais pessoas pedirei para me apoiar? Quais seriam meus planos alternativos? Que oportunidades podem existir onde hoje eu só estou enxergando ameaças?
Mais ainda: se essa expectativa horrível se concretizar do jeito que eu pensei, como eu estarei depois de um mês? E depois de um ano?
Já me aconteceu de fato algo terrível? O que foi? Como foi? Como eu superei isso? Quais forças eu usei? Eu poderia me lembrar disso e usar minhas forças e habilidades novamente? No sentido figurado, “que armas eu vou usar nessa guerra”, ou “com que roupa eu vou”?
E agora, após refletir como acima, conseguir ver de modo mais realista e relembrar minhas forças para o enfrentamento necessário, numa escala de zero a dez, minha ansiedade diminuiu? Minha vontade de agir para resolver o problema aumentou?
A catastrofização é um modo de pensar danoso e muito comum, mas, como se vê, é possível lidar com ela. É preciso, sim, aprender a identificá-la e se questionar usando os padrões acima ou outros. Treine, teste, descubra o seu jeito. É o que vai funcionar melhor!
Enfim, ela é apenas um dos tipos de “distorções cognitivas” ou “viéses de pensamento” ou “pensamentos distorcidos” classificados pela TCC – Terapia Cognitivo-comportamental. Veja mais distorções no e-book gratuito “Pequenos Pensamentos, Grandes Distorções”, no link: https://psicologopascoalzani.com.br/ebooks-gratuitos/
Obs.: Essa reflexão não substitui o processo de psicoterapia.
Psicólogo Pascoal Zani
CRP 08/04471
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