Por:
Pascoal Zani, CRP 08/04471, Psicólogo
Intoxicação
digital: a inveja nas redes sociais
A
regulação emocional na rede social
Você
está navegando no Instagram e a imagem do post é de uma amiga feliz, em férias,
na praia!
O
que você pensou a respeito? "Estou feliz por ela", "quero ir lá
nas minhas próximas férias", "Nunca vou conseguir ser feliz como
ela", "a toda hora ela está me provocando", "nem é tudo
isso"?
Depende
de muitos fatores, claro. Mas conforme tenha pensado você poderá ter sentido
alegria, bem-estar, frustração, desânimo, raiva, inveja, desprezo, etc.
Treinando
a regulação emocional você identificaria a situação, o seu pensamento a
respeito, a emoção e o comportamento que teve. Talvez fizesse alguns ajustes para
viver melhor suas emoções. Não é fácil, mas é o exercício nosso de cada dia e é
necessário.
Agora
vamos adicionar mais ingredientes. No momento em que você decide ir às redes
sociais para se distrair com o rolar frenético das telas encontra a vida e o
viver de tantas outras pessoas, queridas, famosas ou até desconhecidas. Lá
estão também produtos, serviços e utilidades. Em cada post, uma situação, um
fato. Eles se tornam estímulos e podem gerar desejo. Alguns passam despercebido,
uns lhe incentivam, outros desmotivam, enfim, a depender do que você pensou a
respeito.
Mas,
como processar tanto conteúdo de modo tão rápido?
O Class Mates
foi criado em 1995. Logo após, oSixDegrees, em 1997. Orkut, facebook, LinkedIn,
Instagram, twitter, Tik-tok e outras redes vieram depois, cada uma com suas
características, mas sempre aumentando o volume de interações e de utilidade
para os contatos pessoais e profissionais.
Não
à toa hoje se fala de "Zoom Fatigue", “Cansaço ou Intoxicação Virtual”.
O conceito nasceu dos excessos das reuniões via plataformas como Zoom, Google
Meet, Skype, Whereby, etc. Eram reuniões de gerência com seus empregados em
Home Office ou mesmo antes, pois as empresas já as utilizavam em suas
comunicações.
Depois
a ideia da “Fadiga de Zoom” se estendeu à saturação que muitos sentem dentro das
redes, talvez pela dificuldade de digerir tanto conteúdo. De um lado, a maior
parte do planeta está nelas fornecendo e consumindo dados. Noutro, você tem a
necessidade de buscar soluções e adquirir habilidades que permitam vivenciar
melhor a experiência delas.
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Por
que há tanta inveja nas redes sociais?
Eu
responderia que a inveja, outras emoções, pensamentos e comportamentos que
estão das redes são a expressão do homem, que cria e usa a tecnologia à sua
imagem e semelhança.
Cada
rede social é como uma enxada que pode ser usada para assassinar alguém ou
prover o sustento da família. Ela é ferramenta. A inveja já existia e continuou
existindo nela. Vem do homem e dos relacionamentos humanos.
Em
seu primeiro livro, a Bíblia apresenta o sentimento de inveja, já nas origens
(Gênesis) da humanidade: Caim matou Abel após invejar a felicidade dele por ver
a oferta aceita, enquanto a sua havia sido rejeitada.
Se
houvesse Instagram ou TikTok na época, poderíamos dizer que o post de Abel, talvez
uma imagem com a melhor carne do seu rebanho, teve mais curtidas e comentários,
ou seja, a aprovação social do Criador. A publicação de Caim, com os frutos de
sua terra, não teve a mesma sorte, ele se sentiu rejeitado.
A
inveja, emoção aprendida
Iniciamos pela inveja, mas muitos pensamentos, emoções e
sentimentos diferentes podem ir se juntando quando detalhamos o assunto. É
comum que essa mesma reflexão possa abranger ciúme e necessidade de aprovação
social em exagero, por exemplo.
·
O que a felicidade do outro provoca em você?
·
Como se sente quando se compara a alguém?
·
Quanto pesa ser ou não aprovado?
·
O sucesso do outro o motiva ou desanima?
·
E a grama mais verde do vizinho, aquelas
vidas perfeitas que aparecem nos grupos e nas telas?
·
E as lindas e sorridentes famílias dos famosos
comerciais de margarina?
·
Você faz comparações assim?
“As emoções
secundárias são influenciadas pelo contexto social e cultural: são portanto aprendidas,
e não inatas”. (Roberto Lent) Caim sentiu um furor, a emoção primária de
raiva, por ser rejeitado. Depois invejou Abel.
A sociedade e a cultura, então, dão parâmetros. Podemos
arriscar alguns deles: você precisa ter sucesso profissional, ter este peso e
aquela altura, apresentar o melhor resultado, estar sempre feliz, ganhar “x” ou
“y”, ser desta ou daquela religião, comprar isso ou aquilo, estar no namoro ou
no casamento perfeito, tirar as melhores férias da empresa, torcer por este ou
aquele time: “precisa de”, “tem que”. (Será mesmo?)
São normas e regras socioculturais. Podem fazer você
desejar ou achar necessário ter o que o outro tem. A inveja está neste berço,
mas ela não dorme. Algumas reflexões podem ajudar você a lidar com ela:
·
Uma vez desejando algo, quais pensamentos lhe
vem?
·
Querer algo lhe inspira a imitar um
comportamento ou a buscar um objeto, uma situação similar e fazer ações
saudáveis para conseguir?
·
Ou você pensa em ter o que é do outro, sem
medir consequências?
·
A postagem o leva a criticar o que deseja ou
a querer privar o outro do que tem?
·
Você se desmotiva ao querer algo que não
conseguirá tão facilmente?
A
provocação do desejo e o seu modo de reagir
Bem,
talvez você não precise desejar tudo o que os outros tem, não é mesmo?Ou,
desejando, reagindo positivamente ao estímulo, possa parar a fim de analisar o
que de fato quer e planejar maneiras saudáveis e viáveis de conseguir.
Repetindo,
o que de fato quer, independente das comparações infindáveis da sociedade e da
cultura nesta Grande Loja de Desejos chamada Rede Social. Portanto:
·
Cuide para não viver o desejo dos outros e
esquecer o seu. É básico
·
Faça escolhas, examine bem quais atividades,
pessoas e objetos quer acompanhar. Reorganize sua timeline. Assim você poderá
focar em amizades que realmente importam e em páginas que lhe ofereçam
conteúdos úteis para sua atividade e sua Vida
·
Eleja valores de Vida e objetivos de curto,
médio e longo prazo. Isso facilitará suas decisões quanto a compras, quais
amigos e páginas seguir e quais postagens devem merecer a sua atenção
O
comportamento digital e o social
No
tempo em que as relações eram menos virtuais você já encontrava a inveja nos
relacionamentos próximos: no parente que possuía um carro melhor, no amiguinho
que tinha um brinquedo que você não tinha, no colega que conseguia um cargo
melhor que o seu, etc. O que mudou foi a amplitude que as redes deram às
experiências.Tudo é mais rápido, intenso e diverso. Sempre se pergunte: ameaça
ou oportunidade? Pode ser um bom motivo para você treinar sua Inteligência
Emocional. Assim vai aprimorar suas habilidades para melhor aproveitá-las e ter
mais bem-estar, qualidade de vida.
Em todo caso, nova pausa para pensar: não é a ferramenta,
é o homem. Não são as redes sociais virtuais.Sem eximi-las de suas
responsabilidades éticas e legais, a questão, do ponto de vista de da
Psicologia, é que a sociedade se faz representar dentro delas, estimulando que
o seu modo de se comportar passe a ser também o seu comportamento digital. Em
outras palavras, trazendo ao particular para que possa exercer algum controle, trata-se
de como você pensa, sente e age em relação aos conteúdos.
Quem sabe um dia “ter ou provocar
inveja” (envy) nas redes sociais se torne cringe (vergonha alheia). Isso
aliviaria um pouco a insanidade das comparações que provocam frustração,
ansiedade, desânimo, apatia e depressão em quaisquer gerações, sejam Baby
Boomers, X, Y (Millennials), Z (Gen Z) ou Alpha! O que você acha?
Pascoal Zani – CRP-PR 08/04471
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Fonte: https://www.psicologopascoalzani.com.br
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